Fed corta juros novamente e sinaliza pausa em dezembro: o que isso significa para a economia global
- João Beck

- 29 de out.
- 3 min de leitura
Em meio à paralisação do governo americano e à desaceleração do mercado de trabalho, o Federal Reserve (Fed) — o banco central dos Estados Unidos — voltou a cortar os juros em 0,25 ponto percentual, levando a taxa básica para o intervalo entre 3,75% e 4,00% ao ano.
Essa é a segunda redução consecutiva dentro do atual ciclo de flexibilização monetária, iniciado em setembro, mesmo diante da ausência de dados econômicos oficiais devido ao shutdown que já dura 29 dias.

Por que o Fed decidiu cortar os juros
O corte reflete uma tentativa de evitar um desaquecimento excessivo da economia americana. Nos últimos meses, o mercado de trabalho vem mostrando sinais claros de enfraquecimento, com aumento nas demissões e ritmo menor de contratações.
Apesar de a inflação ainda estar acima da meta de 2%, ela segue em trajetória de queda, com o último dado anualizado marcando 3%.
Segundo o presidente Jerome Powell, o objetivo é “apoiar a demanda e o emprego sem comprometer o controle da inflação”.
Sinal amarelo: Fed indica cautela para os próximos passos
Mesmo com o novo corte, Powell deixou claro que o Comitê de Política Monetária (FOMC) pretende avaliar o cenário antes de novas reduções.
“Talvez este seja o momento de esperar um ciclo antes de novos cortes”, afirmou.
O discurso indica uma possível pausa em dezembro, o que dividiu opiniões entre analistas e até dentro do próprio comitê:
Um membro defendeu um corte maior,
enquanto outro preferia manter as taxas inalteradas.
O que o mercado projeta daqui para frente
As estimativas divergem entre as principais casas de análise:
Morgan Stanley, ING e Capital Economics acreditam em mais um corte ainda em dezembro, caso o mercado de trabalho continue perdendo fôlego.
Já a Oxford Economics projeta estabilidade até março de 2026, com o Fed aguardando mais clareza sobre inflação e atividade.
A incerteza permanece elevada — especialmente pela falta de dados oficiais durante o shutdown, que limita a leitura precisa da economia.
Reação dos mercados
O corte de juros foi recebido de forma positiva pelos mercados globais.
No Brasil, o Ibovespa subiu 0,82%, alcançando 148.632 pontos, o 18º recorde do ano.
O dólar recuou e os juros futuros também cederam, refletindo o otimismo com o cenário internacional.
Nos Estados Unidos, o movimento foi mais contido:
Dow Jones: +0,16%
S&P 500: estável
Os principais trechos do discurso de Powell
“Não há um curso predefinido. Vamos observar os dados e agir conforme o cenário exigir.”
“Nosso compromisso é equilibrar os riscos: apoiar o emprego sem permitir que a inflação volte a subir.”
As declarações reforçam o tom equilibrado e pragmático do Fed neste momento: manter o estímulo suficiente para sustentar o crescimento, sem perder de vista o controle da inflação.
Em resumo
O Fed ainda está cortando juros, mas pisou no freio.
Quer evitar uma recessão, mas teme reacender a inflação caso a flexibilização avance rápido demais.
Enquanto isso, o mercado global segue confiante de que o ciclo de queda dos juros deve continuar até 2026 — ainda que em um ritmo mais lento e cauteloso.
Impactos do corte de juros do Fed para o Brasil
O movimento do Fed tende a influenciar diretamente o câmbio e o fluxo de capitais estrangeiros no Brasil.
Com juros mais baixos nos Estados Unidos, ativos emergentes — como os brasileiros — passam a ficar mais atrativos. Isso ajuda a fortalecer o real e reduzir pressões sobre a inflação local.
Além disso, o ambiente global mais favorável abre espaço para o Banco Central do Brasil manter seu próprio ciclo de cortes na Selic, o que pode beneficiar investimentos em renda variável e setores mais sensíveis ao crédito.
Como o investidor deve se posicionar
Para quem investe, este é um momento de atenção e oportunidade.
Renda fixa: prêmios tendem a cair, então pode ser hora de travar taxas mais altas em títulos prefixados ou híbridos.
Renda variável: o cenário global de juros menores favorece bolsas e ativos de risco, especialmente em mercados emergentes.
Dólar: deve permanecer mais fraco no curto prazo, mas oscilações são esperadas conforme o Fed sinalizar o ritmo de cortes.
Conclusão
O corte de juros do Fed em outubro de 2025 confirma que o banco central americano está comprometido em estimular a economia, mas sem abrir mão da cautela.
Com o shutdown limitando dados oficiais, o caminho adiante dependerá da evolução do mercado de trabalho e da velocidade da desinflação.
Para investidores e analistas, o recado é claro: o ciclo de juros nos EUA está mudando — e o mundo inteiro precisa se ajustar a isso.








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